segunda-feira, 29 de abril de 2024

Ai tristeza

Ai tristeza
Dor do meu coração 
Ai natureza
De uma estranha solidão

Ninguém se senta à minha mesa
Ninguém me saúda com paixão
Ninguém sabe um senão
Da minha própria estranheza

Nasci triste e morrerei só
Na berma de uma estrada
Da qual só engulo pó

Desconheço a alegria da amada
Vida que os outros adoram
E que meus sentidos choram.

Ontem

Ontem vi as nódoas negras
E as feridas por cicatrizar nos braços
Doloridos do abandono do coração.

Pensei em ti…
Vi teu lacrimejante olhar e a tua boca seca,
Terna na sua dor.

Talvez possa ser eu a luz ou o abandono
Do teu próprio abandono.
Retenho-me à frente de um espelho
Que apenas busca a minha imagem
Na esperança de encontrar um antídoto
Para a dor do ser.

Afogo-me à margem dos dias.

Tenho vivido…

Tenho vivido nesta quente tarde de Primavera
Um sonho irreal de dor, paixão e de Saudade.
Possuo na visão um Verde,
Imenso como o horizonte
E caminho por entre estradas de pássaros
Que me saltam aos pés,
E estradas de palavras
Que serpenteiam os meus sentidos.
Coexisto com as Desgraças do Mundo
Saio deste surrealista sonho imerso na minha solidão!
 

Quando me atinge…

Quando me atinge
Aquela suavidade de te amar
Perdida no sol de lágrimas
No qual vivo
Deixo-me lentamente adormecer
Nos braços de uma esperança fugidia.

Sonho de uma loucura por terminar

Navega em meu olhar
O fruto do teu ventre
Qual pele adocicada de ternura
E preencho com os lábios
O sinal de um amor incondicional.
Filho do meu ser
Que repousa
Bem dentro de mim.
Sonho de uma loucura por terminar.

A bonança

 As horas de sono provam ser cruéis para com os meus sentidos,
Entorpecendo-os anestesiadamente no ócio do cansaço.
No leito vazio no qual durmo e choro venho apenas encontrar
O esgotamento das horas adormecidas que correm com essa corrente do rio
Dos dias e dos anos que passam sem deixar memória,
Atordoando a minha vontade de caminhar por novas estradas
E destinos que desconheço ainda,
E minando seriamente a curiosidade de conhecer novas pessoas e novos amores
Que desde sempre foi característica da minha personalidade.
As gentes que me rodeiam parecem estar já habituadas ao cansaço dos dias
E o receio de me conformar perante a existência
Invade de rompante as portas da minha mente,
Aos pontapés e aos murros à minha consciência
Permanecendo eu impávido e parvo e incapaz de responder da mesma forma
A esse receio,
E acobardando-me perante os meus próprios sentidos e nervos
Deixo-me cair novamente na tentação de adormecer uma vez mais 
Para os meus pesadelos apenas pelo facto de que quando neles estou mergulhado
Não posso agir conscientemente contra os medos que me atacam sem piedade
Como se eu fosse o inimigo desconhecido dos sentimentos e dos sentidos das gentes.
Afogo as minhas mágoas na solidão das noites que passo a dormir.
E deixo-me cair no esquecimento.  

Noite de tempestade

Percorro os escuros caminhos que me conduzem ao café
Fustigado por este vento húmido e frio de Março
Que me arrepia a pele nua que cobre os meus cansados ossos
E que faz brotar de bem dentro do meu ser
A melancolia de uma tristeza que me persegue
Com a fúria dolorida de um cão raivoso.
Nos céus enevoados e cinzentos que pesam no meu olhar
Desperta já a tempestade que irá perturbar os pesadelos já habituais
Das minhas horas de consciência adormecida
Fazendo-me temer a rendição incondicional do meu corpo
Ao cansaço de mais um dia preenchido pelas mediocridades do quotidiano.
Desejaria escapar a estas horas de passividade passadas à mesa do café.
Mas nada se vislumbra no horizonte dos meus sentidos
Que valha realmente a pena ser sentido, tocado ou vivido.
Acabo por me afundar numa ânsia cruel e desajustada 
À passividade destes minutos que arranham a minha consciência
E penso no caminho que tenho ainda para percorrer nesta fria noite de tempestade.
A tristeza está presente ainda nos espelhos do meu olhar,
E abandona-me à tentação de me atirar de cabeça nos precipícios da insanidade
E do desconhecimento.
Desenham-se à minha frente vultos contornados pela chuva,
Esculturas de água fria que fazem adivinhar o cheiro a corpos molhados
E espirros atirados ao ar nas minhas costas.
Quão vulgares são as consequências de uma noite de tempestade!
Quão triste é a vulgaridade dos seres.
Empalideço perante a possibilidade de caminhar a minha estrada
Cercado pela mediocridade do Mundo.
E toda a minha vontade dissolve-se 
Nas frias águas que preenchem esta noite
De tempestade.