Percorro os escuros caminhos que me conduzem ao café
Fustigado por este vento húmido e frio de Março
Que me arrepia a pele nua que cobre os meus cansados ossos
E que faz brotar de bem dentro do meu ser
A melancolia de uma tristeza que me persegue
Com a fúria dolorida de um cão raivoso.
Nos céus enevoados e cinzentos que pesam no meu olhar
Desperta já a tempestade que irá perturbar os pesadelos já habituais
Das minhas horas de consciência adormecida
Fazendo-me temer a rendição incondicional do meu corpo
Ao cansaço de mais um dia preenchido pelas mediocridades do quotidiano.
Desejaria escapar a estas horas de passividade passadas à mesa do café.
Mas nada se vislumbra no horizonte dos meus sentidos
Que valha realmente a pena ser sentido, tocado ou vivido.
Acabo por me afundar numa ânsia cruel e desajustada
À passividade destes minutos que arranham a minha consciência
E penso no caminho que tenho ainda para percorrer nesta fria noite de tempestade.
A tristeza está presente ainda nos espelhos do meu olhar,
E abandona-me à tentação de me atirar de cabeça nos precipícios da insanidade
E do desconhecimento.
Desenham-se à minha frente vultos contornados pela chuva,
Esculturas de água fria que fazem adivinhar o cheiro a corpos molhados
E espirros atirados ao ar nas minhas costas.
Quão vulgares são as consequências de uma noite de tempestade!
Quão triste é a vulgaridade dos seres.
Empalideço perante a possibilidade de caminhar a minha estrada
Cercado pela mediocridade do Mundo.
E toda a minha vontade dissolve-se
Nas frias águas que preenchem esta noite
De tempestade.